Como já citamos no artigo Diabetes Mellitus (DM), essa é uma doença crônica muito prevalente na população mundial e uma das principais causas de mortalidade, com uma estimativa em torno de 10% da mortalidade por todas as causas!
A doença cardiovascular é uma complicação frequente e responsável pela metade dos óbitos na população diabética.
Frequentemente a Insuficiência Cardíaca (IC) é a primeira complicação Cardiovascular num paciente portador de DM do tipo II.
Mesmo os pacientes que são portadores de pré-diabetes conforme a definição da Organização Mundial de Saúde (glicemia de jejum entre 100 e 126 mg/dl) apresentam maior risco de desenvolverem IC.
Importância da Fração de Ejeção na Insuficiência Cardíaca
A IC pode ser definida como uma alteração na função ventricular cardíaca seja sistólica (contração) ou diastólica (relaxamento) prejudicando a capacidade do coração em suprir adequadamente a demanda energética do organismo.
A IC é classificada conforme a fração de ejeção que é a porcentagem de volume ejetado na sístole (contração) em relação ao volume total do ventrículo ao final da diástole (final do enchimento ventricular).
O normal da fração de ejeção é um índice igual ou superior a 55%.
Desta forma podemos ter:
- a IC de fração de ejeção reduzida (ICFR) quanto este valor é igual ou inferior a 40 %;
- a IC com fração de ejeção preservada quando este valor é igual ou superior a 50% (ICFP);
- e a IC com fração de ejeção moderadamente reduzida (ICFmR) cujo valor se encontre entre 40 e 50%.
A importância desta classificação é que o prognóstico e a modalidade de tratamento irão variar conforme o tipo de IC, sendo a ICFP a que tem melhor prognóstico. Entretanto, o tratamento e o diagnóstico da ICFP são mais desafiadores para o médico.
Insuficiência Cardíaca e o Diabetes Mellitus
Em números, cerca de 10 a 30% dos pacientes portadores de DM tipo II (leia o texto “O Diabetes Tipo 2“) apresentam IC.
A prevalência chega a 40% nos pacientes diabéticos acima de 70 anos! Portanto, a associação de DM e IC é muito frequente.
Sintomas e Diagnóstico
Os principais sintomas da IC são: dispneia, ortopneia, fadiga, intolerância aos esforços, edema dos membros inferiores, sudorese, palpitações e taquicardia.
São sintomas inespecíficos e comuns a muitas doenças cardiovasculares. Portanto, diante destas queixas é necessário exame físico minucioso e exames complementares para confirmação do diagnóstico.
Laboratorialmente a IC pode ser avaliada pela dosagem do peptídeo natriurético tipo B (BNP) ou a do fragmento N-terminal do peptídeo natriurético tipo B (NT-pro BNP).
O BNP e o NT-pró BNP se elevam com o aumento da expansão do volume e a sobrecarga de pressão nos ventrículos, sendo útil no diagnóstico e prognóstico da IC, tanto em pacientes diabéticos como não diabéticos.
Na investigação da possibilidade de IC no DM o cardiologista irá solicitar um eletrocardiograma (ECG), pois é raro um eletrocardiograma normal em portadores de IC. E, muito provavelmente, um ecocardiograma que é o exame de escolha para avaliação da função ventricular sistólica e diastólica bem como alterações estruturais do coração na IC do diabético.
A clínica em conjunto com o ecocardiograma permitirá a adequada classificação do tipo de IC.
Demais exames subsidiários serão solicitados de acordo com o perfil e análise individual de cada caso.
Causas
Está bem estabelecido que o inadequado controle da glicemia está associado a alterações estruturais cardíacas refletindo na deterioração da função ventricular.
Portanto, é imperioso que o tratamento do DM seja eficiente para reduzir a incidência ou melhorar o prognóstico da IC nestes pacientes.
De fundamental importância é o controle dos fatores de risco associados como:
- Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS),
- Dislipidemia,
- Obesidade e
- Tabagismo.
Importante avaliar a função renal e tomar medidas para preserva-la ou retardar a progressão da Insuficiência Renal (IR).
Também um estilo de vida saudável com nutrição adequada e atividade física é indispensável.
Tratamento Farmacológico
Em relação ao tratamento farmacológico da IC no paciente diabético este não difere do não diabético e na ICFR ou ICFmR está indicado o uso de uma combinação de inibidores do sistema renina-angiotensina, beta-bloqueadores, antagonistas dos receptores mineralocorticoides e inibidores de SGLT2 (ISGL T2).
Todos estes com evidências robustas de redução de mortalidade e eventos cardiovasculares.
Já em relação a IC com fração de ejeção preservada recentemente tivemos evidencias sólidas que os inibidores da SGLT 2 são benéficos no tratamento destes pacientes. Inicialmente os ISGLT2 são uma classe de medicamentos desenvolvida para o tratamento de DM2, cujo mecanismo de ação é induzir glicosúria ao inibir o co-transportador de sódio e glicose tipo 2 existentes nos túbulos renais.
Mas pesquisas demonstraram efeito favorável no tratamento da ICFR, ICFmR e mais recentemente de ICFP. E nestes pacientes com ICFP é o primeiro fármaco com resultado positivo na redução de eventos cardiovasculares.
Assim esta classe de medicamentos é a primeira que pode e deve ser empregada em todas as formas de IC.
Naturalmente nada será proveitoso sem uma completa adesão do paciente ao tratamento e, neste contexto, a informação e a educação do paciente são fundamentais.
Portanto, pergunte ao seu médico se você for diabético sobre as complicações cardiovasculares e o adequado tratamento.