medico campinas anfetaminas porque nao usar 01
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Anfetaminas: Porque não usar.

Quem não conhece as “bolas” que os estudantes ingerem para passar a noite estudando na véspera de uma prova ou os “rebites”, comprimidos utilizados pelos motoristas profissionais para não sentirem sono?

E ainda os comprimidos para reduzir o peso rapidamente para vestir aquela roupa? E o êxtase ou ectasy, estimulantes consumidos para energizar o folião de um baile de Carnaval ou numa festa “reive” que irá passar horas e horas dançando e pulando, sem sono, sem fome e sem cansaço?

O que eles têm em comum?

 São as anfetaminas, drogas poderosas que causam euforia, aumentam a energia, desencadeiam fala e pensamento acelerados, inibem o sono e o apetite.

A pessoa sob efeito da anfetamina estuda, mas não retém muito o que estudou, e se a prova for no dia seguinte a fadiga física e mental irá prejudicar o desempenho.

O motorista por sua vez terá os olhos dilatados (midríase) tornando-os mais sensíveis aos faróis, terá redução de reflexo e prejuízo do julgamento o que é muito perigoso numa estrada.

Em todos os casos teremos a irritabilidade, alteração do humor, aumento da frequência cardíaca e ansiedade. Após o efeito da droga ocorrerá um cansaço físico e fadiga mental, os usuários estarão literalmente esgotados!

Trata-se de um comportamento extremamente perigoso, pois traz riscos irreversíveis ao bem estar físico e mental e um grave prejuízo a saúde! O Brasil é um dos países com o maior consumo destes compostos químicos e este texto é um alerta dos riscos do uso de anfetaminas sem indicação médica.

As Anfetaminas

Cerca de 22,8% da população brasileira já fizeram uso de drogas (exceto álcool e tabaco)

Frequência do Uso de Drogas na População Brasileira

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 Fonte : Observatório Brasileiro de Informações Sobre Drogas 

As anfetaminas compreendem um vasto número de fármacos que são substâncias psicotrópicas com propriedades psicoestimulantes.

Psicotrópicos são drogas que atuam sobre o nosso cérebro e especificamente sobre psiquismo (o que sentimos, pensamos e expressamos) e a propriedade psicoestimulante se refere ao fato que elas estimulam e aceleram a nossa atividade cerebral nos deixando mais atentos, focados, agitados, sem sono e sem apetite.

Por estas características, as anfetaminas são frequentemente utilizadas para o uso recreativo seja como estimulante físico, redutor de apetite ou do sono, ou sensação de prazer e alegria.

As anfetaminas atuam no nosso cérebro aumentando a liberação e o tempo de atuação dos neurotransmissores sobretudo a dopamina e a noradrenalina.

Os neurotransmissores são mensageiros químicos que transmitem informações de um neurônio a outro neurônio ou célula receptora e propagam o estímulo nervoso.

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Fonte: https://goo.gl/images/2wa5hU

A dopamina atua no controle motor, cognição e percepção, controle hormonal e neurovegetativo.

Também se correlaciona a comportamentos motivacionais como desejo, fome e sexo. Pelo efeito dopaminérgico a anfetamina produz uma sensação de bem estar, prazer e euforia que pode resultar em dependência e potencial uso abusivo.

A noradrenalina está também relacionada ao humor, motivação e cognição, comportamento motor e manutenção da pressão arterial.

É potente estimulante do sistema nervoso simpático atuando sobre o sistema cardiovascular.

Eleva a pressão arterial e induz a vasoconstricção arterial reduzindo o fluxo das artérias, excitando o coração com aumento da força de contração da musculatura cardíaca e da frequência cardíaca.

Estes efeitos, se excessivos ou naquele paciente portador de cardiopatia podem ser deletérios levando a complicações como crise hipertensiva, arritmia, insuficiência cardíaca, infarto agudo do miocárdio e até mesmo a morte!

Anfetaminas e Emagrecimento

Existem diferenças entre os efeitos das diversas anfetaminas de acordo com o fármaco utilizado.

E eles podem ser uteis no tratamento de diversas patologias como: obesidade, transtorno do déficit de atenção e narcolepsia. Mas sempre com acompanhamento médico estrito!

Os anorexígenos reduzem o apetite e os mais utilizados são o femproporex, a anfepramona e o mazindol.

Entretanto estas drogas podem causar um efeito “rebote” no qual, após o efeito estimulante no cérebro, o usuário irá experimentar fadiga, sono e apetite exacerbados.

É comum o ganho de peso, até maior do que o inicial, após a interrupção da droga o que gera um efeito “sanfona”.

Daí, para não ter estes efeitos, o usuário terá que utilizar doses maiores e mais frequentes, aumentando os efeitos colaterais e criando dependência.

O uso contínuo destes medicamentos poderá resultar em inquietação, irritabilidade, agressividade, transtornos de personalidade como o transtorno obsessivo-compulsivo e até mesmo psicose!

Além dos efeitos colaterais sobre o sistema cardiovascular já descritos anteriormente. (TAKITANE et al., 2013)

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a produção e comercialização do femproporex, anfepramona e mazindol por entender que os riscos eram maiores do que os benefícios potenciais e em 2011 o Supremo Tribunal Federal (STF) referendou esta decisão.

Ocorre que estas drogas continuam sendo comercializadas clandestinamente, isoladamente ou em “fórmulas” para emagrecer…

TDAH

Em 2021 a lisdexanfetamina, utilizada para o tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em pacientes com 6 anos de idade ou mais, ganhou indicação para o tratamento de compulsão alimentar no país.

Está contraindicada em pacientes com doença cardiovascular sintomática, arteriosclerose avançada, hipertensão moderada a grave não controlada, hipertireoidismo e glaucoma entre outras …

As anfetaminas também são utilizadas para o tratamento do (TDAH) e da narcolepsia.

Além do dimesilato de lisdexanfetamina (Venvanse©) já mencionada, temos o cloridrato de metilfenidato (MPH – Ritalina©) que estão sendo comercializados no Brasil com autorização da Anvisa.

A ação e o efeito da Ritalina no cérebro humano são muito similares ao da Cocaína.

O FDA alerta sobre potenciais efeitos adversos desta droga como: sonolência ou surtos de insônia, piora na concentração e cognição, alucinações, surtos psicóticos, crises de abstinência e até suicídio!  

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Ambas embalagens já alertam sobre o risco de causarem dependência Física ou Psíquica.

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Neuroimagem – Fonte Biblioteca Digital da Universidade Federal do Paraná

A Ritalina também pode alterar, por interferência na hipófise a secreção de hormônios sexuais e reduzir a produção do hormônio do crescimento, o que pode resultar em redução da estatura de crianças em fase de desenvolvimento.

Entretanto, o tratamento da TDHA não se restringe ao uso dos fármacos, já que necessita de abordagem multiprofissional.

O uso das anfetaminas deverá ser pelo menor tempo possível e com acompanhamento médico rigoroso para evitar os efeitos colaterais e dependência!

Ecstasy

Merece destaque o uso crescente e alarmante do (3,4-Metilenodioximetanfetamina) o MMDA, popularmente conhecido como ecstasy, não autorizado para produção e comercialização no Brasil.

O MMDA é utilizado como droga recreativa extremamente difundidas em festas, bailes, shows e eventos de toda natureza para aumentar a empatia, produzir um estado de euforia e sensação de prazer.

Trata-se de uma anfetamina extremamente potente e perigosa com alto risco de dependência e letalidade!

O uso agudo desta droga leva a uma liberação maciça de dopamina, noradrenalina e serotonina no Sistema Nervoso Central e Periférico.

A serotonina é um neurotransmissor que regula o nosso humor, o sono e a nossa capacidade de atenção e, estando em equilíbrio, proporciona uma sensação de bem estar.

Agudamente o indivíduo que ingere o MMDA irá apresentar euforia, humor deprimido, diminuição da ansiedade.

O excesso de serotonina no organismo causado pelo uso do MMDA pode resultar na síndrome serotoninérgica caracterizada por: Midríase (olhos dilatados), hipertensão arterial, taquicardia, sudorese, hipertermia (aumento da temperatura corporal de até até 42 °C), rigidez muscular, incoordenação motora, alteração neurossensorial com agitação e alucinações.

Poderá desenvolver arritmias, colapso cardiovascular e até evoluir para o óbito.

A estimulação persistente dos terminais serotoninérgicos decorrente do uso crônico da droga ocasionará uma alteração do estado mental, comportamental e da habilidade cognitiva. 

Terá efeito devastador sobre o organismo com hipertonia muscular, rabdomiólise (destruição da musculatura), lesão hepática, cardíaca e renal podendo levar a morte

É prudente que ocorra uma avaliação cardiológica prévia ao uso com indicação médica das anfetaminas. Pois a presença de cardiopatia insuspeita pode ter um agravo significativo com o uso destas substâncias.

Não use anfetaminas sem recomendação médica!

Orientações e Dúvidas

Em caso de dúvidas, procure um profissional de saúde. Não use medicamentos sem orientação médica.

Se pecisar, entre em contato conosco.

Biografia

Anfetaminas: efeitos, mecanismo de ação, usos clínicos e de abuso. / Danilo Valentim Sousa. – Cuité: CES, 2015.

TAKITANE, J.; OLIVEIRA, L. G.; ENDO, L. G.; OLIVEIRA, K. C. B. G.; MUNÕZ, D. R.; YONAMINE, M.; LEYTON, V. Uso de anfetaminas por motoristas de caminhão em rodovias do Estado de São Paulo: um risco à ocorrência de acidentes de trânsito?  Ciência & Saúde Coletiva, 18(5):1247-1254, 2013.

MORO, E. T.; FERRAZ, A. A. F.; MÓDOLO, N. S. P. Anestesia e o Usuário de Ecstasy. Rev. Bras. de Anestesiol, v. 56, n. 2, 2006.

Ritalina uma droga que ameaça a inteligência Rev. Med Saúde Brasília 2018; 7(1):99-112

Dr. Willian Cirillo

Médico especialista em Cardiologia e em Terapia Intensiva

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