medico campinas poluicao e o coracao 01
medico campinas poluicao e o coracao 01

Poluição: O Inimigo Invisível que Afeta a Saúde do Coração

A poluição é um fator de risco cada vez mais relevante para Doenças Cardiovasculares.

A poluição do ar já representa um dos maiores fatores de risco globais para a mortalidade.

Imagem1

O ar é considerado poluído quando há presença de contaminantes ou de substâncias poluidoras na sua composição, sejam eles gases, materiais particulados e compostos orgânicos voláteis, que interfiram na saúde e no bem-estar humano, ou ainda causem efeitos danosos ao meio ambiente.

Os principais poluentes no ar atmosférico são: monóxido de carbono, dióxido de enxofre, materiais particulados, ozônio, compostos orgânicos voláteis e óxido de nitrogênio. (Cetesb, 2015).

Brasil e Queimadas

O Brasil está atravessando um momento crítico decorrente de queimadas que estão presentes em boa parte do território nacional.

A cidade de São Paulo, em alguns dias de setembro de 2024, teve o ar mais poluído do planeta, segundo a agência suiça IQAir que monitora a poluição em mais de 100 cidades de todo o planeta!

 Obviamente, quanto mais próximo a queimada maior o prejuízo a saúde das pessoas.

Aqueles que combatem diretamente os incêndios tem maior exposição ao monóxido de carbono com maior risco de intoxicação e morte.

Os efeitos dos poluentes causados ao meio ambiente e à qualidade de vida das pessoas, além de afetarem as comunidades próximas à fonte de emissão, podem viajar milhares de quilômetros pela atmosfera, atingindo locais distantes.

A fumaça decorrente das queimadas é constituída por monóxido de carbono, fuligem, metais pesados, hidrocarbonetos aromáticos e outros materiais particulados.

Sua composição pode variar, pois diferentes biomassas podem gerar gazes e materiais particulados diversos e mesmo nas mesmas áreas estes podem variar conforme a fase do incêndio.

Em geral, são tóxicos quando inalados e contribuem substancialmente para a poluição do ar.

É comprovado que quanto maior o nível de poluição maior é a mortalidade global e cardiovascular.

Também existem evidências sólidas de que a poluição do ar se correlaciona ao câncer de pulmão e de bexiga

Imagem2

Monóxido de Carbono

O monóxido de carbono (CO) é um gás tóxico, sem cor e sem odor, que resulta da combustão incompleta do carbono em combustíveis ou em incêndios das mais diversas naturezas.

A inalação de Monóxido de Carbono gera a produção da carboxiemoglobina na hemácia, que ao contrário da hemoglobina, não é capaz de transportar o oxigênio para as células do nosso organismo.

Inalação maciça de monóxido de carbono portanto é incompatível com a vida e é a principal causa de morte em incêndios de grandes proporções.

Um grande estudo realizado na China evidenciou que a cada aumento de apenas 1 mg/m3 de monóxido de carbono na atmosfera resultou numa redução de expectativa de vida, em anos, de 2,08%. 

Em relação a doença cardiovascular especificamente esta redução foi de 2,35%.

Há estudos demonstrando que um aumento de apenas 2% de carboxiemoglobina no sangue resulta em agravo da angina pectoris, com menor limiar de esforço para o desencadeamento das crises.

Outro estudo realizado na cidade de São Paulo, aonde cerca de 30% da mortalidade é decorrente de Doença Cardiovascular, comprovou um aumento dos quadros de angina e infarto agudo do miocárdio à medida que tínhamos um aumento na concentração de monóxido de carbono.

Achados similares foram relatados em Londres, Los Angeles, Tucson e na Filadélfia.

Material Particulado e Problemas de Saúde

Os materiais particulados geram uma inflamação sistêmica com lesão endotelial (as células que recobrem as nossas artérias) e promovem o stress oxidativo ativando vias pró-trombóticas.

Em outras palavras eles aceleram o processo da aterosclerose e inflamação com a circulação de citocinas inflamatórias e os hormônios de stress.

As consequências são um aumento exponencial das doenças isquêmica ateroscleróticas.

Em São José dos Campos, município de São Paulo, um estudo avaliou a associação da exposição das pessoas ao material particulado com internações por hipertensão.

Foi constatado que um aumento de 10 μg/m3 de material particulado aumenta em 13% o risco de internações por hipertensão.

Na mesma cidade, outro estudo comprovou a relação entre exposição a poluentes e risco de morte por acidente vascular cerebral.

Este estudo demonstrou a associação entre a exposição ao material particulado e dióxido de enxofre.  Constatou-se um aumento do risco de 7 a 10%, concluindo que a exposição a poluentes pode ser um fator de risco para morte por acidente vascular cerebral.

Um levantamento em 2006 na cidade de São Paulo apontou uma associação de material particulado inalável ao incremento nas internações por asma em crianças, bem como por Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica e Doença Isquêmica Cardíaca em idosos.

Também temos relatos de aumento da incidência de Doenças Cardiovasculares associados a maior concentração de enxofre e ozônio na atmosfera.

Polução é Problema de Saúde Pública

Assim, devemos considerar a poluição atmosférica como uma condição prioritária para a saúde pública.

O indivíduo deve evitar a exposição a poluição o que inclui não se exercitar em ambientes poluídos e adequada hidratação, sobretudo se calor intenso.

Ao se deslocar ao trabalho buscar itinerários com menos trânsito e eventualmente usar máscaras se a exposição a poluição e as queimadas for inevitável.

Soluções

Medidas abrangentes devem ser instituídas para a redução das emissões de poluentes.

A transição energética com investimento em energias limpas como a solar, eólica e hidrelétricas reduzirão significativamente a emissão de gazes e materiais particulados.

Esta deve ser uma política de governo permanente com campanhas de esclarecimento e rigoroso controle e punição daqueles agentes poluidores, sejam indivíduos ou empresas.

Deve-se estimular investimento em processos inovadores que reduzam a poluição atmosférica.

O combate aos incêndios florestais impedindo a sua propagação com vigilância e alerta precoce, investimentos na área de proteção ambiental e defesa civil são cruciais para mitigar os efeitos danosos das queimadas.

Também é necessário conscientizar as pessoas para que tenham um comportamento mais saudável evitando causar ou propagar incêndios e que priorizem as tecnologias que resultem em menor poluição do ar. 

Ficou com dúvidas? Fale conosco

Referências

1-Environmental Pollution and Cardiovascular Disease.  Sagheer et al. JACC: ADVANCES, VOL. 3, NO. 2, 2024 Sagheer et al    FEBRUARY 2024:10080

2- Efeitos das queimadas na saúde humana Helena Ribeiro e João Vicente Assunção. Metrópole E Saúde. Estudos Avançados 16 (44), 2002

3- Poluição do ar como fator de risco para a saúde: uma revisão sistemática no estado de São Paulo Metrópole E Saúde ESTUDOS AVANÇADOS 30 (86), 2016

4- CETESB. Poluentes. Disponível em: http://ar.cetesb.sp.gov.br/poluentes

Dr. Willian Cirillo

Médico especialista em Cardiologia e em Terapia Intensiva

Deixe um comentário